Pesquisas sobre a criminalidade infantil no Recife constatam o aumento da violência

      Funase detalha, em estudo, perfil do menor infrator em Pernambuco


Medidas Socioeducativas plicados ao jovem infrator - Foto de divulgação
Um levantamento realizado pela Fundação de Atendimento Socioeducativo (Funase) de Pernambuco, no mês de março de 2016, traçou o perfil dos internos que passaram pelas unidades de internação Centro de Internação Socioeducativo (Case). De acordo com o estudo, o perfil do menor infrator é composto, em sua maioria, por adolescentes negros, pobres, de baixa escolaridade, envolvidos com drogas, e que cometem atos infracionais análogos a roubo, homicídios e tráfico de entorpecentes.

Os dados da pesquisa mostram que pontualmente existem 1.576 internos no Case. Entre eles 1.523 são do sexo masculino e 53 do feminino. Desse total, 64,8% são considerados negros e pardos, é um total de 798 jovens. Os que comentem crimes hediondos somam 14,2%. Nos atos de maior incidência, o crime de roubo fica em primeiro lugar com 40,9%, tráfico 18,7%, e homicídio 16,9%.

Os adolescentes que são levados às delegacias do menor infrator passam pelos trâmites legais e são enviados para os locais de apoio, de onde são separados por faixa etária e sexo. A unidade de Jaboatão dos Guararapes recebe meninos entre 12 e 16 anos; em Abreu e Lima e Cabo de Santo Agostinho de jovens com idade entre 16 a 21 anos; e Case de Santa Luzia, em Areias, no Recife, recebe garotas de 12 a 18 anos.

            Os menores deveriam receber apoio dessas instituições, com atividades recreativas, estudo e tratamento, mas, infelizmente, as unidades não têm estrutura para acomodar tantos adolescentes. Ao invés disso, os internos passam o tempo sem fazer nada em alas apertadas com outros infratores e ficando mais violentos. O mais forte se torna líder do grupo, a decisão é dele sobre quem ficará responsável pela faixa ou, no caso de um novato, cabe a ele aceitar ou não o adolescente. Porém para ser integrante da equipe é necessário passar por uma sessão de tortura, funciona como um teste para medir a força do concorrente. Além dessa realidade, existe um mercado informal dentro dos Cases onde se vende de tudo, de biscoitos a armas e drogas. A única que ainda tem condições adequadas de receber os infratores é o Case de Jaboatão, mas, mesmo assim, como esses menores adquirem tanta agressividade?

A ESCOLA DO CRIME

A Pontifica Unidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) divulgou uma pesquisa elaborada pelo Centro de Análise Econômicas e Sociais (Caes) sobre a realidade das crianças que vivem nas violentas favelas do Recife, Pernambuco. A crianças de 1 a 8 anos residentes nos bairros de Santo Amaro, Chão de Estrela e Canal do Arruda, no Recife, responderam perguntas sobre criminalidade, violência física e tráfico de drogas. Os dados revelam a influencia da violência que esses pequenos recebem vem de dentro de casa.

            De acordo com a pesquisa, coordenada pelo professor Hemílio Santos, 75% das crianças com 1 ano sofrem muito com a violência com a prática de bater, deixar de castigo e gritar. A mãe aparece no topo dos agressores, logo após a avó, já que em muitos casos ela acaba assumindo a criação dos netos. Apesar do pai aparecer pouco na pesquisa isso não significar que ele seja pacífico. Pois exige uma corrente de violência, por exemplo, se o pai bater na mulher e ela agredir a criança, o pai também se torna um agressor em potencial.

             De acordo com a pesquisa que entrevistaram 90 crianças entre 6 e 8 anos, mostra que desde cedo elas tem contato com a violência. 37% dessa faixa etária afirmam ter visto alguém armado, sendo que 10% viram um adulto atirar muitas vezes. O dado de maior evidência é que 82% dessas crianças presenciaram alguém sendo preso pela polícia nas ruas. O tráfico de drogas também é um dos crimes mais presenciados pelas crianças, 36% viu pessoas vendendo entorpecentes na comunidade.

            As respostas dessas crianças que vivem nas comunidades consideradas violentas mostra que vários fatores podem levar esses pequenos inocentes a menor infrator. A miséria social, estrutura emocional das famílias e a presença de maus influenciadores pode facilitar a entrada dessas crianças na criminalidade. Segundo o Estatuto da criança e do Adolescente (ECA) prever na lei N° 8.069, de 13.07.1990, que: “É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e a convivência familiar e comunitária”.
                                                          
CIDADANIA NAS COMUNIDADES VIOLENTAS

            Policiais Militares criam ações de apoio aos moradores dos bairros da Zona Norte do Recife, o projeto Amigos do 11° Batalhão da Polícia Militar (BPM) leva educação, cultura, esporte e lazer com o objetivo de tirar crianças e adolescentes das ruas e afastá-las da criminalidade.

            A equipe de orientadores são amigos de farda que se unem desde 2015 para realizar esse trabalho nos 31 bairros atendidos pela corporação. As ações chegam em 15 comunidades e possuem mais de mil alunos inscritos. As aulas acontecem de segunda a sábado, das 6h às 22h. Os policiais contam com o apoio da população nesses locais.

            A ação oferece aulas de Jiu-Jítsu que acontecem na quadra da Escola Estadual Lions de Parnamirim, nas segundas e quintas. Nas terças-feiras os adolescentes e adultos se reúnem para jogar futebol no campo do Barreirão, em Dois unidos.

No bairro da Macaxeira os moradores recebem aulas de Taekwondo todas as manhãs de quartas-feiras. O esporte pode ser praticado por meninos e meninas com idade a partir de 10 anos. Não precisa pagar taxa de inscrição ou mensalidade, a única exigência é que os interessados estejam estudando em escolas regulares.

            As atividades voltadas à música acontecem no Alto da Foice, Bairro do Vasco da Gama, apesar do nome da comunidade ser violenta, os moradores tem voz e alegria que são entoados nos acordes de um violão, no gingo da percussão ou ao som da bateria e teclado. As aulas de músicas são dadas a 30 alunos, numa sala ao lado da Igreja Nossa Senhora de Fátima, todas as quartas-feiras no horário da manhã.



SERVIÇO
Amigos do 11° Batalhão da Polícia Militar (BPM)
Sede: Rua Apipucos n° 15, Bairro dos Apipucos, Recife – PE.
Atendimento: Segunda a Sábado
Contato: (81) 3183-5474.

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